O mar continuava selvagem naquela costa do Atlântico. O sol batia com força sobre as peles já curtidas, mas o calor era abafador e fomos passear bem perto da água. Era o único método para sufocar o calor.
Mário.
O rapaz apresentou-se como actor. Gostaria no futuro ser actor de telenovelas. Agora estava sem emprego e por isso tinha aproveitado o tempo para ir mais à praia, mas aquilo não era assim tão fixe porque lhe faltava companhia.
Primeiro erro: convidei-lhe vir sentar connosco.
Mário só queria falar, não precisava de resposta, e cada vez que abria a boca só saiam asneiras.
Por exemplo, os manequins não são giros.
Estudar é uma perda de tempo porque quando fazes um curso ficas no desemprego. Ademais a gente não sabe fazer a escolha de curso e estudam coisas que já de antemão não têm futuro nenhum.
O Mário também não gosta de trabalhos simples ou trabalhos de escritório, ele gosta é de aventura. Foi por esta causa que teve de deixar o primeiro emprego antes de cumprir a semana de prova, o trabalho era num call center:
“E querem saber o que eu fazia ali? Ligava pessoas e mentia.”
Ena! Jornalista! Ele não gosta de seguir as notícias, prefere que sejam outros a contar para não passar o trabalho de ter que ler um jornal ou ver na TV.
Ah! Mas ele fez uma actuação na Escola de Teatro onde representava um apresentador de telejornal. Para construir a estória tinha de selecionar uma notícia real e inventar outra. O Mário escolheu uma notícia de um gangue que foi apanhado num assalto. A notícia inventada merece um parágrafo aparte.
Inventou a detenção de Bin Laden. Bin Laden foi encontrado por 12 jovens aconchegado num poço na zona de Sesimbra. Os jovens voltavam de uma noite de festa, andavam na brincadeira e foram buscar água ao poço quando deram com Bin Laden lá dentro abraçado a sua arma (um kalashnikov). Um dos jovens ligou à polícia, mas nos escritórios da polícia tomaram aquilo na tanga. Para se fazerem crer os 12 jovens ligaram ao mesmo tempo à esquadra. Lá apareceu a polícia depois de 15 minutos. Não apanharam Bin Laden à força ou aos tiros, apanharam-no com uma rede de pesca. Ao dia seguinte os titulares rezavam assim: Bin Laden pescado num poço em Sesimbra.
O Mário também quer uma tattoo, mas não sabe se dói e também pensa que são modas de gente com carências. A gente pensa que a tattoo é reflexo da sua personalidade ou de alguma coisa que o representa e ele não acredita nisso. Ele prefere fazer um escorpião nas costas porque é o seu signo do zodíaco, de 31 de Outubro, do dia das bruxas.
Ui! Piercings é coisa que também acha moda de gente com pouca personalidade e não querendo comparar com drogas, pensa que quem leva piercing e tattoos acaba por ser deixado de lado. Essas pessoas são rebeldes, têm mala conducta, como os drogados.
Da homossexualidade, Mário também tem opinião, ele gosta de mulheres e não se importa de ter amigos gays sempre que não tentem nada com ele e não lhe contem coisas estranhas.
Tudo isto contou o Mário em meia hora que agüentamos nas toalhas. Quando por fim conseguimos meter três palavras no meio do seu monólogo dissemos:
«Nós vamos almoçar!»
Com um sorriso nos distanciamos da praia e sentamos no café do parque, já pensávamos que o assunto ficava resolvido… Mas o Mário voltou aparecer e sentou-se para almoçar juntos e continuar a monologar.
…